Foi apenas uma hora
e meia, julgo que não chegou a esse tempo. O meu velho cronómetro
ainda na hora de verão havia despertado e as peripécias oníricas
duraram até ao preciso momento em que o despertador do telemóvel
soou. Eram sete da manhã.
Como vão ver, este
escasso tempo bastou para o meu subconsciente me brindar com
peripécias e acontecimentos da mais variada índole. Por onde
começar? Não sei ao certo por onde isto começou. Trata-se de um
conjunto de pequenas histórias muito intensas, aparentemente sem
qualquer ligação entre si.
Lembro-me de estar a
lareira da sala acesa e a minha vizinha estava sentada numa cadeira.
A minha mãe perguntou-lhe a que horas ela se tinha deitado na noite
anterior. Ela disse que eram sete da tarde. Depois já disse que eram
dez da manhã, para depois dizer que eram onze da noite. Daquelas
confusões que ela costuma fazer com o tempo, agora que passou
largamente dos oitenta anos.
Então vamos começar
a dar um seguimento à narrativa. Encontrava-me numa formação ou
numa aula. As coisas, mais uma vez, eram escritas no quadro com letra
pouco compreensível. Desta vez não havia o irmão do Saleh para me
passar os apontamentos. Como eu não estava a escrever nada, houve
quem se irritasse comigo mas logo veio em meu socorro alguém que não
consegui identificar. Alguém vestido de preto. Alguém que, segundo
me disseram, havia jogado na Académica.
Vim para fora dessa
formação ou dessa aula e tive de apanhar transporte. Ia a sair
quando o meu telemóvel tocou. Era uma voz masculina identificando-se
como sendo Daniel Ricardo- um segurança que me havia ajudado há uns
tempos e que, alegadamente, estaria interessado em mim. Mais um
chato! Estava-me a convidar para tomarmos qualquer coisa mas eu fui
dizendo que estava com pressa.
Pois bem, fui comer
qualquer coisa a um café e o meu telemóvel voltou a tocar. Era ele
de novo. O que eu não sabia é que ele estava ali também no mesmo
local. Em cima da mesa onde ele comia estavam dois pães muito
pequenos...e três garrafas de cerveja de litro. Ofereceu-me os pães
mas nada de me oferecer cerveja. Também não queria. O indivíduo
estava a ser desagradável e eu queria sair dali para fora o mais
discretamente que poderia. Mas o meu comportamento foi tudo menos
discreto. Estava ali também um amigo meu e o tal jovem de preto que
me ajudava ali com o quadro. Ia para sair quando me caíram as calças
bem ali no meio do café. Passei a maior vergonha. Agora é que tinha
de sair dali rápido. Fui para a rua com o meu amigo e o tal jovem de
preto de elevada estatura e pele morena. Devia ser aí argelino, não
sei.
Transpusemos um
portão depois de passarmos por um jardim. Estava um vulto caído no
chão. Eu depreendi que fosse um cadáver mas era demasiado hirto
para isso. Passei à frente mas um deles tentou colocar a figura de
pé. Ele dizia que era um cadáver mas revestido com uma camada de
madeira. Que coisa estranha! Fomos andando.
Bem, no post
anterior tinha dito que nem por uma vez havia sonhado com a minha
casa. Pois bem, chegou a hora de sonhar. E esta parte parecia bem
real. Como choveu bastante durante a noite, sonhei que me tinha
levantado, abri a janela e constatei com horror que o cordão da
roupa estava vazio. O vento havia arrancado as molas da roupa e ela
tinha voado. Olhei para baixo, a minha roupa estava o mais espalhada
possível pela rua. Para piorar as coisas, a rua estava toda
enlameada. E agora? Distinguia o meu pijama azul e uma camisola
interior que já não era branca, era castanha da cor da terra.
Foi quando eu
acordei. Quanto ao jogador da Académica que eu não estava a
conseguir identificar, talvez fosse o Haliche que agora joga no
Estoril. Olhei para o cordão da roupa. Por acaso o pijama azul nem
está lá a secar.
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