De vez em quando,
sou transportada para memórias e situações que há muito foram
apagadas pelo tempo. Por que razão isso acontece, ainda busco uma
explicação mas, até à data, ainda não consegui entender o que se
passa.
São memórias que
surgem do nada, muitas vezes acompanhadas, sobretudo, por sensações
olfativas e por sentimentos, uns mais positivos que outros. Desta
vez, fui transportada lá para bem longe no tempo. Ao tempo em que
tinha medo do escuro e dormia sempre aconchegada à minha falecida
avó, acordando-a e pedindo que continuasse a rezar ou que contasse
uma história.
Sou transportada
para uma longa noite bem escura e fria. Devia ser Inverno, pois tenho
a ideia de que estava bastante frio, a minha avó foi para a sala à
espera que viessem canta as Almas Santas. Naturalmente eu, como não
queria ficar na cama sozinha, acompanhei-a até altas horas da
madrugada. A espera foi em vão, pois as pessoas tinham de correr o
lugar todo, tal como se faz pelas Janeiras. A diferença é que, vá
lá saber-se porquê, eram já altas horas da noite e a minha avó
sentada na sala à espera das Almas Santas.
Estava cansada e com
frio. A minha avó acabou por se render e ir para a cama. Nessa noite
não houve Almas Santas para ninguém. Provavelmente foram a outras
casas, deixando a nossa para o outro dia mas não me consigo lembrar
se chegaram a vir no outro dia.
Nunca mais na vida
estive à espera das Almas Santas e nunca mais ouvi falar de tal. Já
lá vão uns longos anos. Nem sei em que época do ano elas eram
cantadas pelas aldeias portuguesas.
Lembrei-me disto por
acaso, foi até onde as minhas memórias repentinas me levaram.
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