“Sonhei com a tua
cadela. Trazia a pasta, como sempre trago, e a tua cadela vinha
sempre atrás de mim a tocar-me na pasta.”
Estávamos a almoçar
quando Cruz Santos relatou o seu sonho com a cadela-guia de Moreira
que é uma Labrador preta. Eu perguntei-lhe de que cor era a cadela
no sonho, como ele a imaginava. Ele disse que nunca chegou a ver a
cadela no seu sonho, apenas a sentiu a tocar na pasta. De referir que
este nosso amigo viu normalmente até aos dezoito anos, se não estou
em erro. Já cegou há muitos anos mesmo.
A partir daqui,
começou toda uma conversa bem interessante sobre os sonhos de quem é
cego total. A amostra ali não era muito elucidativa, pois toda a
gente que ali estava viu um dia. Não estava ali ninguém cego de
nascença e era pena. Seria interessante perguntar a alguma dessas
pessoas como são os seus sonhos.
Trocaram-se ali
experiências interessantíssimas. Recorreu-se a algo que alguém leu
sobre os sonhos dos cegos totais. Alguns dos meus amigos afirmavam
que eram precisos vinte anos para que a pessoa que tenha adquirido a
cegueira perca a capacidade de sonhar a cores. Havia quem tivesse
dito que esse espaço de tempo era muito menor.
Depois cada um
contou a sua experiência e pude constatar que varia um pouco de
pessoa para pessoa. Há quem veja nos sonhos apenas vultos, sombras
indefinidas. Há quem apenas consiga sentir movimento e os diálogos
entre os intervenientes do sonho dão-lhe um sentido mais importante
do que dariam a quem ainda vê. Depois surgiu uma coisa bastante
curiosa: alguém- não me lembro quem- afirmou que quando sonha, não
consegue ver as cores mas, quando está acordado, consegue pensar e
imaginar a cores.
São estas trocas de
experiências que tornam os convívios entre nós mais saudáveis.
Experiências de vida muito gratificantes.
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