Wednesday, June 13, 2018

Divórcio

E de repente, assim vindas do nada, surgem-me umas memorias muito estranhas. Fragmentos do meu passado que me assolam. Imagens que estavam guardadas lá bem atrás e que eu tinha esquecido de todo e não percebo por que é que o meu subconsciente ou lá o que é as vai desenterrar.

É curioso que isso passou-me a acontecer...desde que eu trabalho. Um dia, falei deste assunto a algumas pessoas que andam no Reiki e que percebem dessas coisas estranhas da mente. Uma delas disse-me para eu apontar esses episódios. Faço mais. Partilho-os aqui. Este e mais um.

Estas coisas acontecem quando estou a desempenhar as minhas habituais tarefas e sem aviso prévio. Num flash, sou transportada para fragmentos da minha vida que já estavam arrumados algures e dos quais nunca mais me lembrei. É o caso deste que achei curioso. Muitas das vezes, estes episódios são acompanhados também pelos cheiros ou outras sensações que senti na altura.

Este episódio remonta a um tempo em que andava na escola primária. Há mais de trinta anos, portanto. Como a minha aldeia é um local pequeno, qualquer episódio assim fora do normal que aconteça, é um rebuliço enorme. Nesse dia fomos para a escola e o assunto do dia era o abandono do lar por parte de uma senhora da minha terra depois de uma noite de desacatos. Ela ia pedir o divórcio. Foi a primeira vez, sem dúvida, que ouvi falar em tal palavra e, provavelmente, por não estarmos familiarizados com o tema por vivermos num meio muito pequeno e por sermos ainda crianças, a nossa professora explicou-nos o que era um divórcio. Era quando um casal se separava.

Nesse final de tarde, depois de terminada a escola, a minha mãe resolveu ir “ao lugar”. Como viuvemos fora da povoação, a minha mãe refere-se ao facto de se deslocar para dentro do aglomerado de casas como “ir ao lugar”.

Eu acompanhei a minha mãe. Não me lembro se a minha irmã também foi. Obviamente que não se falava de outra coisa, que não dessa separação. Não sei como, talvez porque a minha mãe pertence também à raça humana e a raça humana adora ir bisbilhotar um pouquito do que se passa na vida dos outros, num rasgo de magia, vi-me no interior dessa casa que agora mostrava um ar mesmo deprimente. De abandono total.

A imagem que me assolou o cérebro foi a da arca congeladora completamente desprovida de conteúdo. Invadiu-me as narinas aquele cheiro típico de congelador.

Fiquei estupefacta com a memória que o meu cérebro trouxe para a superfície. Ainda hoje estou para saber a razão por que isto acontece.

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