Ontem fiquei
boquiaberta enquanto almoçava e ia ouvindo as notícias na
televisão. Então não é que a Porto Editora colocou no mercado
cadernos de atividades para crianças entre os quatro e os seis anos
para meninos e meninas? Voltámos ao Estado Novo? Foi?
Não voltámos
porque o próprio minuistro-adjunto da Educação, depois de inúmeras
queixas, resolveu intervir e a Porto Editora suspendeu de imediato a
venda desses manuais que não deveriam sequer ter visto a luz do dia
nos tempos que correm.
Eu não sei o que
passou pela cabeça de algumas pessoas aqui neste Portugal que não
para de nos surpreender. Provavelmente isto vem de alguém com
saudades da Educação do tempo do Estado Novo e da Mocidade
Portuguesa, daquele tempo em que realmente é que era. Mais grave
ainda, parece que foi uma mulher a elaborar estes livrinhos que
fomentam gritantemente a diferenciação de género.
Depois a Porto
Editora deveria ter tido outra abordagem antes de sequer colocar no
mercado tais livros, sabendo-se desde logo que iam gerar polémica e
não tardaria muito com as redes sociais logo a fazerem chover
mensagens de desagrado, como estava bom de ver.
Nem é preciso
folhear estes manuais de atividades para logo encontrar matéria
alimentadora da desigualdade entre géneros. Basta olhar para a
diferença exterior dos livros. Para os meninos é azul, para as
meninas cor de rosa. As ilustrações também são diferentes e não
me venham cá agora dizer que a diferença estaria nas ilustrações
porque nem aí deveria estar. Era igual para meninos e meninas e
acabou-se!
Para além da
diferenciação de cores e desenhos, o que já é mau, as atividades
também são diferentes. Num dos exercícios ou atividades, os
meninos devem ir para a rua procurar objetos ou algo assim, enquanto
que as meninas deverão ajudar a mãe a preparar o lanche. Mas o que
é isto?!!! É o que eu digo, saímos para a rua para fazer uma
revolução para isto.
Mas, quando se
julgava que estes livros eram maus demais, ainda pioraram. Dizem (eu
não tenho filhos, não folheei um livrinho desses) que os exercícios
eram mais fáceis para as meninas e mais complexos para os meninos. O
quê? Mas estas alminhas que elaboraram os livros são loucas? Só
pode mesmo.
Que mais dizer sobre
isto. Mau demais. Lamentável de mais. Estamos em 2017! Muito se
lutou no passado, inclusive em Portugal, para os cidadãos terem a
oportunidade de fazerem escolhas para a sua vida, sem que para isso
sejam penalizados ou ostracizados. Todos lutámos- e ainda
continuamos a lutar- por uma sociedade mais igual, onde podemos
escolher livremente o que queremos ser e o que queremos fazer.
Começar a colocar ideias retrógradas dignas de Estado Novo na
cabeça de crianças tão pequenas não é definitivamente o caminho.
De modo algum!
Ainda bem que isto
se resolveu e que o nosso Governo recomendou a retirada destes
manuais da discriminação do mercado. Pensar que alguma vez eles
chegaram a existir num país que se diz civilizado e de primeiro
mundo como é o nosso é simplesmente lamentável.
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