Saudades das minhas
famosas crónicas de viagens nos autocarros amarelos da cidade? Pois
é, eu agora ando pouco nesses veículos. Quando ando, normalmente é
no Vinte E Nove, logo o mais propício a que sucedam histórias
engraçadas.
Para quem só chega
agora a este humilde espaço e não saiba o que é o Vinte e Nove,
devo explicar que é o autocarro que leva aos Hospitais da
Universidade de Coimbra. Toda a gente que venha do Portugal profundo
para uma consulta, apanha aquele autocarro. Algumas dessas pessoas só
têm mesmo contacto com a civilização quando se deslocam ali ao
médico vindas da aldeia.
Ali desfilam pessoas
a tresandar a bolas de naftalina porque vestem a sua roupa que está
guardada no baú só para as ocasiões em que vão ao médico ou, em
condições mais dramáticas, a roupa já está guardada para levar
para a cova.
Hoje de manhã,
desenrolava-se uma discussão entre uma mulher que se fazia ouvir com
tamanha clareza, que abafava qualquer outro som. A senhora queria
ajudar uma outra a sair em Celas mas a outra parecia não apreciar a
ajuda. Então a teimosia ou persistência veio ao de cima. Aos
gritos, a senhora estava a tentar convencer a outra a sair na mesma
paragem. A outra não estava a aceitar mas dizia que se ia perder. Se
já sabia que se ia perder, por que não aceitava a ajuda? Coisas que
não se percebem.
A certa altura, a
mulher que falava bem alto e que queria ajudar desabafou:
“E SE ELA CALÇAR
UM CARRO ALI?“
Não pude deixar de
me rir, até com uma gargalhada estridente.
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