Esta história é completamente verídica e poderia acontecer a qualquer idosa da aldeia que não saiba ler nem escrever e já seja traída pelas artroses nos joelhos.
Às vezes estou eu na consulta nos Covões e aparecem lá idosas de localidades que eu não sei onde ficam mas presumo que sejam lá para a Serra. Levantam-se cedo, vão de ambulância ou de táxi (quando não vão de autocarro e não sabem para que serve uma senha). Tanto trabalho para depois chegarem á recepção e ouvirem dizer:
- “A senhora tem a certeza que a consulta era hoje? É que aqui está marcada só para daqui a seis meses.”
Pobre velhinha! Lá fica especada no corredor da consulta externa sem saber se há-de andar para trás ou para diante enquanto vai arrumando os documentos atabalhoadamente na carteira velha e gasta e vai murmurando o quão infeliz é.
A minha vizinha convenceu-se que havia de ir fazer um tratamento a um olho ontem e lá teve de fazer o sacrifício de ir. Ela até nem estava com muita vontade e fazia mil e uma confusões por causa do transporte para lá. Tudo porque não queria dar “quinze oiros” por um “carro de praça”.
Não sei como ela se deslocou para o consultório. Só sei que, à entrada do edifício, o joelho lhe falhou e ela deu uma monumental queda, batendo com o peito no chão e magoando-se bastante.
Quando se recompôs e finalmente chegou á recepção foi informada de que a consulta afinal era no dia 3 de Fevereiro.
Realmente há dias em que uma pessoa não pode sequer meter os pés na rua.
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