Sunday, April 28, 2024

Um homem que passeava um cão

 

Logo vi que ia ter um episódio de paralisia do sono. Acordando depois de adormecer e estando algum tempo sem pegar no sono, é quase certo isto vir a acontecer.

 

O bom dessas situações, por vezes, é que podem dar origem a sonhos lúcidos, a experiências fora do corpo e a situações muito estranhas. Refira-se que o cérebro não está completamente a dormir, por vezes está mais ativo do que em vigília e isso dá origem a situações como estas.

 

vi-me a levantar da cama, a abrir a janela, desta vez a do meio, e a saltar para baixo. O dia era de sol, num universo paralelo, parece-me a mim. Toquei ao de leve no chão e comecei a subir, planando sobre casas com telhados característicos com telhas laranja. As casas eram todas brancas. Fui-me afastando, subindo cada vez mais.

 

Aterrei numa estrada rural, numa espécie de ruela onde não havia circulação de carros. Alguns estavam estacionados por ali. Não vi ninguém numa primeira instância. Não conhecia de todo o lugar onde eu estava.

 

Fiquei por ali um pouco. Reinava o silêncio. Nisto ouvi falar. Só depois avistei um homem de meia-idade, aí entre os quarenta e cinco e os cinquenta anos, a passear um cão de porte médio de uma tonalidade castanha muito clara.

 

Comecei a falar com ele e o cão veio ter comigo. Fiz festas no dorso do animal e constatei que o pelo era liso e bem cuidado. As sensações eram muito reais, até podia sentir o cheiro do champô do cão que tinha sido lavado há pouco tempo.

 

Este é o episódio de muitos que teve esta noite longa.

 

O 27 De Abril

 

Eu não me lembro de ver outro presidente no futebol Clube Do Porto que não Pinto Da Costa. Vai ser muito estranho daqui para a frente acompanhar o Futebol nacional e constatar que há mudanças.

 

Fez-se história. Para além de ter sido acompanhado este ato eleitoral pela comunicação Social, algo que não me lembro de ter acontecido antes, ainda houve uma derrota esmagadora de pinto Da costa ante   André Villas-Boas que passa a comandar os destinos dos azuis. Eu pensava que Pinto Da Costa iria continuar na  presidência com o treinador vencedor da Liga europa em 2011 em  segundo com uma pequena margem. No entanto, os sócios portistas saíram á rua e  foram votar, algo que, por mais que puxe pela cabeça, nunca tinha visto. O resultado  foi uma estrondosa vitória com oitenta por cento de votantes. Pinto Da costa saiu resignado.

 

Ventos de mudança soprarão certamente para os lados do Dragão. Resta saber o que haverá depois de Pinto Da Costa.  Cresci a acompanhar Futebol.  Era criança quando assisti ao levantar da Taça Dos Campeões Europeus por João Pinto. Curiosamente é um dos jogos que eu mais recordo, apesar de não ser portista. Senti que aquele era um jogo importante para nós, portugueses, independentemente da cor.

 

Nos anos noventa  assistia a situações de alguma injustiça e de alguma impunidade, causando-me raiva e revolta, fazendo crescer em mim um certo ódio por aquele clube, agravado depois pelos indícios de que, afinal, havia algo podre por detrás dessa impunidade. Lembro-me de, certa vez, ainda o árbitro vestia de preto, ver  Jaime Magalhães completamente de cabeça perdida a pontapear com toda a força uma bola ás pernas do homem  de negro e a insinuar aos berros que a mãe do árbitro exercia a profissão mais antiga do Mundo e isenta de impostos, ou seja, a prostituição. Só viu cartão amarelo, para meu espanto. Nesse mesmo ano vi um jogador do Salgueiros ser  castigado com seis jogos de suspensão por agredir um adversário. Está tudo dito!

 

Nos anos seguintes havia quase sempre batalhas campais envolvendo jogadores dos azuis e brancos. Normalmente  era quando os resultados não lhes eram favoráveis. Lembro-me de uma situação em Campo maior em que daí surgiu até um  castigo para vítor Baía. Por outra vez, na Reboleira, houve rebuliço num final de um jogo. Recentemente chegado ao Futebol nacional, Mário Jardel compareceu junto aos jornalistas lavado em lágrimas a dizer que isto era uma  vergonha. Passado um tempo, lá o ensinaram também a meter-se em  confusões, nomeadamente, quando os jogos eram com o Benfica.

 

Lembro-me de um jogo que se iniciou com atraso devido a desacatos entre adeptos do porto e do vitória De Guimarães. Lembro-me de dois  adeptos agredirem jornalistas. Acho que um deles era o famoso Vítor Catão que  está detido por causa daquela Assembleia em novembro em que houve confusão.

 

Depois havia jogadores que vestiram a camisola azul e branca que podiam fazer de tudo em campo.  Bruno  Alves e pepe (ainda hoje) podiam assassinar um jogador da equipa adversária em campo, que não lhes acontecia nada. Parece que ultimamente se começaram a abrir os  olhos ao comportamento dos jogadores portistas em campo e o resultado está á vista: equipa com mais expulsões na europa.  Nas redes sociais  dizem que é por Fernando Madureira estar preso. Será?  Até pepe já foi expulso duas vezes nos últimos meses. Passavam décadas sem ver um cartão vermelho e não era certamente devido ao seu bom comportamento.

 

Nos últimos quatro anos, a minha aversão ao porto amenizou-se porque, para minha tristeza (chorei muitas lágrimas por ver o meu ídolo alinhar por aquele clube) o Mehdi taremi passou a ser jogador deles. Dividia-me entre detestar o clube e adorar um jogador que lá alinhava e que eu queria só o melhor para ele. O Futebol tem destas coisas.

 

Foi por isso que o dia 28 de dezembro de 2022 foi um dos dias mais felizes da minha vida e um dos dias que jamais vou esquecer. Há vinte anos atrás, se me  dissessem que ia ser muito feliz no Estádio Do  Dragão, mandaria essas pessoas beberem água ou meterem mais tabaco. Seria impossível ser feliz ali…a menos que houvesse um jogo entre o Porto e o Benfica e o Benfica ganhasse. Mas eu não contava que a minha vida desse uma volta tão grande e a ajuda involuntária quando perdi a visão tivesse vindo de um jogador que mal conhecia, que vestia na altura outra camisola e que veio a ser importante nessa fase  difícil da minha vida sem o saber.  Para meu desalento, o Taremi acabou por assinar pelo porto e isso dificultou o meu sonho de o conhecer e lhe agradecer tudo o que, sem querer e sem saber, fez por mim. Nessa noite, comigo na bancada, a torcer de propósito por ele, marcou três golos ao Arouca e fez provavelmente o melhor jogo desde que está em Portugal. Foi uma noite perfeita que levo para a vida. Não poderia pedir mais.

 

Ainda voltei duas vezes ao Dragão: uma para participar na corrida e outra para testar a rádio com audiodescrição do jogo com o Casa Pia. Fui mais vezes ao Dragão do que ao Estádio Da Luz mas, quando visitei a Catedral, em 2005, também foi memorável porque aquele jogo deu-nos um título.

 

O Taremi também se vai embora. Pinto Da Costa foi vergado nas urnas de voto. André Villas-Boas é agora Presidente dos azuis. Nada vai ser igual. Será que daqui a cinquenta anos se assinalará o 27 De Abril?

 

Saturday, April 27, 2024

Olhando para a berma da estrada vi aquele gato

 

Por aqui já devem estar habituados aos  sonhos recorrentes com gatos na estrada atropelados por veículos.

 

Desta vez o gato que jazia do outro lado da estrada, sempre do outro lado da estrada, foi retirado por mim e pela minha mãe há uns anos sem vida do centro da estrada e não na berma.

 

Pertencia a um senhor da minha terra que esperou por ele largo tempo, pensando que tinha ido ás gatas, quando a minha mãe lhe contou que o tinha apanhado morto do meio da estrada.

 

Nessa manhã fria de dezembro, ia eu cortar o cabelo, quando via algo branco no meio da estrada. Era um gato que tinha sido atropelado há pouco tempo. Por acaso no caminho encontrei o dono desse gato mas não lhe disse nada porque não sabia que o animal era dele.

 

A minha mãe veio para cima comigo e retirámos o gato da estrada. Na véspera também tinha sido atropelada uma gatinha cinzenta nossa.

 

No meu sonho desta noite, era esse gato que estava na berma caído quando, da eira, olhei através das grades.

 

Esperei a minha mãe vir da mercearia para lhe contar. Talvez ela não tivesse visto porque entrou pelo outro portão e o gato estava mais acima.

 

Realidade e subconsciente nesta memória  retorcida do que realmente se passou há uns anos atrás.